Sescoop/RS e Fecoagro promovem Seminário Gestão Estratégica para o Futuro das Cooperativas Agropecuárias
Representantes de diversas cooperativas gaúchas estiveram presentes no dia 28 de novembro no Seminário que tratou da gestão estratégica do ramo Agropecuário. As palestras, que ocorreram no Centro de Formação Profissional Cooperativista, foram ministradas por profissionais de cooperativas brasileiras, argentinas e alemãs, e evidenciaram aspectos imprescindíveis para que as cooperativas tenham uma boa gestão e controles internos e externos. O evento teve ainda como objetivos oferecer um espaço de debates e capacitação profissional.
Abertura
A abertura do Seminário foi feita por dirigentes do Sistema Ocergs-Sescoop/RS, da FecoAgro/RS, de representantes das cooperativas e do Ministério da Agricultura da Alemanha. O presidente do Sistema Ocergs-Sescoop/RS, Vergilio Perius, saudou os presentes e destacou a importância das cooperativas do ramo Agropecuário no cenário cooperativista gaúcho. Perius salientou também a atuação da Ocergs junto à equipe de transição do governo estadual, onde alguns temas serão tratados em defesa das cooperativas agropecuárias, como o Aprendiz Cooperativo no Campo, a questão logística e as melhorias na geração e distribuição de energia elétrica nas propriedades rurais, com a implementação de redes trifásicas.
O presidente da FecoAgro/RS e diretor-secretário da Ocergs, Paulo Pires, lembrou da representatividade do público do evento, composto em sua maioria por dirigentes de cooperativas agropecuárias, além da importância desse trabalho para o fortalecimento do setor. O dirigente cooperativista disse que a FecoAgro trabalha constantemente para auxiliar na boa gestão das cooperativas filiadas e oferecer instrumentos de capacitação para essas melhorias constantes.
Na sequência, o diretor do Projeto Brasil x Alemanha da Confederação Alemã das Cooperativas (DGRV), Arno Boerger, ressaltou a relevância do projeto de cooperação bilateral que está em andamento, bem como a entrada da Argentina, que passa a tornar o projeto trilateral. Boerger destacou um dos focos do projeto, que é a gestão das cooperativas.
Já a representante do Ministério da Agricultura da Alemanha (BMEL), Julia Hullmann, falou que aprova com muita convicção o projeto de cooperação bilateral com as cooperativas gaúchas, e que agora está sendo ampliado para a Argentina. Segundo ela, esse projeto incentiva a adoção de estratégias para a qualificação dos gestores das cooperativas.
Após, foi a vez do diretor de Projetos Internacionais da Confederação Alemã das Cooperativas (DGRV), Christoph Plessow, enfatizar que essa parceria contribui para que os sistemas cooperativos sejam mais estáveis e eficientes. O dirigente alemão afirmou estar certo de que o Seminário trará mais conhecimento para esse trabalho através dos palestrantes.
Primeiro painel trata da Fidelização do Quadro Social
O primeiro painel do Seminário tratou da Fidelização do Quadro Social e foi coordenado pelo presidente da Cotrisel, Fernando Osório. O discurso inicial ficou com o presidente da Cooperativa Agrária Agroindustrial, Jorge Karl. Fundada em 1951, com sede em Guarapuava (PR) e área de atuação em 19 municípios paranaenses, a Cooperativa conta com 600 associados e 1.320 colaboradores, com faturamento de R$ 2,3 bilhões. Entre os principais produtos recebidos de seus associados, Karl destaca a cevada, trigo, aveia, triticale, canola, soja, milho e feijão.
A Agrária possui a segunda maior maltaria da América Latina, sendo que 25% do malte produzido no País é oriundo da Cooperativa paranaense, com 220 mil toneladas/ano. A Agrária atua também com moinho de trigo, fábrica de rações, sementes e indústria de soja, e possui uma unidade de pesquisa agropecuária e uma área de reflorestamento, sendo ainda mantenedora de um hospital e de uma escola.
No quesito fidelização, que Karl denominou gestão de cooperados, o dirigente cooperativista destacou alguns aspectos que são trabalhados pela Cooperativa, como cadastro completo e atualizado, possibilidade de reserva de insumos, financiamento bancário, assistência técnica e financeira e ainda, informações sobre o mercado com fins de comercialização.
Palestraram ainda neste painel a representante da Sociedade Cooperativa Limitada de Agricultores Federados Argentinos (AFA), Florência Doná, que abordou aspectos que considera essenciais para que a entidade argentina seja uma referência na fidelização do quadro social, que são o desconto para a compra de automóveis junto a duas montadoras, plano de saúde, seguro contra granizo e assessoramento agronômico.
Cenário Atual da Difusão de Tecnologias para Cooperativas
No segundo painel do dia, o tema em destaque foi o “Cenário Atual da Difusão das Tecnologias para Cooperativas”. Sob a mediação do coordenador técnico da CCGL TEC, José Ruedel, o painel contou com a presença da representante da Sociedade Cooperativa Limitada de Agricultores Federados Argentinos (AFA), Florência Doná; o representante da Sancor Cooperativas Unidas Limitadas, Sergio Montiel; o superintendente da área comercial da Cotrijal, Jairo Marcos Kohlrausch; e o diretor do Projeto Brasil x Alemanha da Confederação Alemã das Cooperativas (DGRV), Arno Boerger.
Montiel iniciou as apresentações agradecendo a oportunidade de estar presente no Seminário. O dirigente cooperativista explanou sobre a Sancor, uma cooperativa argentina de produtores de leite que conta atualmente com cerca de 1.150 associados. Com 76 anos de história, a Sancor é a maior exportadora de produtos lácteos da Argentina, atuando com distribuição em todo o país.
O representante da central cooperativa argentina falou sobre a evolução da transferência de tecnologias na trajetória da Sancor. Montiel afirmou que todo processo de controle de qualidade e quantidade de leite começa na propriedade, por isso ele ressaltou que o resfriamento do leite é obrigatório para todos os produtores associados à Sancor. “Muitas cooperativas fazem hoje acompanhamento da qualidade do leite na Argentina”. Outro aspecto abordado por ele foi o trabalho dos assessores técnicos, que proporcionam um alto nível de desenvolvimento nas propriedades rurais e a manutenção de uma relação permanente com o produtor.
Por fim, o dirigente argentino reforçou o trabalho da Cooperativa na área de comunicação, destacando que sempre mantém os associados informados sobre tendências e novidades do setor, contribuindo para a elaboração de uma gestão estratégica sólida e eficiente.
Assistência técnica, inovação e tecnologia
Na sequência foi a vez do superintendente da área comercial da Cotrijal, Jairo Marcos Kohlrausch, que iniciou sua explanação enfatizando a visão da Cooperativa, traçada a cerca de dez anos. “Ser referência em organização, tecnologia e gestão da produção no agronegócio cooperativo brasileiro até 2015”.
Kohlrausch chamou a atenção para as necessidades destacadas pelos produtores para a Cotrijal se tornar essa referência. Segundo ele, os associados consideram importante ter acesso a produtos tecnicamente recomendados, com respaldo técnico e comercial, além de assistência técnica constante e personalizada. Os produtores também ressaltam a importância do custo benefício compatível, com investimentos em inovação e tecnologia e a validação local das tecnologias.
O representante da Cooperativa de Não-Me-Toque disse que a Cotrijal criou fontes de diferenciação, para não ficar condicionada somente à questão de preços de mercado, visando ao desenvolvimento pessoal e profissional dos associados e colaboradores, com compromisso na obtenção de resultados.
Difusão de tecnologia com aplicação correta
Para a coordenadora do Departamento de Educação e Capacitação de Cooperativas da Sociedade Cooperativa Limitada de Agricultores Federados Argentinos (AFA), Florencia Doná, a difusão de tecnologia deve vir acompanhada de uma correta orientação para aplicação adequada nas propriedades rurais. Florencia afirma que na Cooperativa, 36 mil associados são pequenos produtores, que tem média entre 100 e 120 hectares, o que representa 95% do total.
A representante cooperativista argentina disse que a AFA tem 120 engenheiros agrônomos distribuídos nos 26 centros primários e subcentros, que são os responsáveis por levar a correta informação e a difusão dos avanços tecnológicos para os associados. Ela também destaca o fator comercial para o sucesso do negócio. “É necessário que se saiba produzir, mas também que se saiba comercializar, para que o negócio seja lucrativo”.
Nesse aspecto, em virtude da sucessão familiar e do tamanho das propriedades, Florencia afirma que a AFA realiza um trabalho de treinamento para auxiliar no desenvolvimento de novos modelos de negócio dentro da propriedade, para que as novas gerações possam aprender a cultivar outras coisas e sair das culturas tradicionais, permanecendo no campo com modelos de negócios que sejam lucrativos.
Panorama do Cooperativismo Agropecuário na Alemanha
No encerramento das palestras da manhã, Arno Boerger enfatizou a importância da metodologia na transferência de tecnologia. “Não é suficiente somente ter a tecnologia, tem que ter a metodologia para saber passar para o produtor o que ele precisa, saber passar os seus conhecimentos”, afirmou.
Em sua explanação, Boerger falou sobre o cenário dos 28 países da União Europeia (UE), destacando o Cross Compliance, em que todos os produtores da UE precisam comprovar a existência de um sistema de assistência técnica agropecuária para receber os subsídios. Após, o dirigente alemão abordou a diversidade de assistências técnicas especializadas existentes em diferentes regiões da Alemanha, destacando que a assistência técnica privada tem crescido nos últimos anos.
Gestão Estratégica de Custos é tema do terceiro painel
O terceiro painel do dia reuniu o diretor da Produttare Consultores Associados e professor da Unisinos, José Antônio Valle Antunes Júnior, o gerente comercial da Central das Cooperativas Agropecuárias (RedeAgro), Auri Boff e o presidente da Coagrisol e RedeAgro, Gelso Mânica, que atuou na coordenação.
Antunes tratou de gestão estratégica e governança em cooperativas. Durante sua explanação, ele explicou a diferença entre preço e custo. “Preço não tem nada a ver com custo. Custo é uma coisa que se define dentro da organização, o preço é definido pelo mercado, pela marca”.
O diretor da Produttare afirma que os custos não devem ser calculados. “O que interessa é reduzir custos e aumentar o lucro”, explica o consultor. Para ele, essa deve ser uma busca constante da empresa, que deve diminuir o custo fixo e aumentar a eficiência de utilização dos ativos.
Após, o gerente comercial da RedeAgro, Auri Boff, falou sobre a formação da instituição, que foi criada em agosto de 2013. Atualmente, a Central das Cooperativas Agropecuárias conta com 17 cooperativas associadas. Conforme números apresentados, para 2014 a projeção de compras está em cerca de R$ 27,3 milhões.
Por fim, Boff citou os desafios da RedeAgro para os próximos anos, entre os quais destacou o comprometimento das cooperativas em torno do projeto, a união dos interesses, a organização da logística e a expansão do projeto.
Auditoria e Controles Internos
No painel que fechou o Seminário, sobre Auditoria e Controles Internos, o coordenador Tarcísio Minetto apresentou os painelistas, que foram a controller da Cooperativa Piá, de Nova Petrópolis, Gisela Schaffer, o representante da Sancor Cooperativas Unidas Limitadas da Argentina, Sérgio Montiel e o auditor da Confederação Alemã de Auditoria em Cooperativas (RWGV), Christian Buschfort, que abordaram aspectos relevantes nas áreas de procedimentos, metodologias, ferramentas utilizadas e mapeamento de processos utilizados em suas atividades, com a finalidade de realizar auditorias internas e externas e estabelecer mecanismos de controles internos. O Seminário foi finalizado pelo presidente da FecoAgro/RS, Paulo Pires.
Agronegócio Cooperativo no Rio Grande do Sul
O setor de agronegócio cooperativista gaúcho registrou um faturamento de R$ 18,7 bilhões em 2013, representando um aumento de 18,17% em relação ao ano anterior. Somadas, as cooperativas agropecuárias congregam cerca de 290 mil associados no Estado, constituindo-se também no segmento com maior número de cooperativas, 148, e de empregados, 31.148.
O ramo Agropecuário é responsável por 57% dos empregos gerados no ambiente cooperativo do Estado. Em 2013, o segmento registrou um acréscimo de 383,77% nas sobras antes das destinações, passando de R$ 83,7 milhões (em 2012) para R$ 405 milhões. O agronegócio cooperativo estadual também apresentou uma variação positiva de 2012 para 2013 no imobilizado, passando de R$ 3,3 bilhões para R$ 3,7 bilhões. Outro indicador que registrou acréscimo foi o patrimônio líquido, que aumentou 5,77%, chegando em 2013 a R$ 3,3 bilhões.
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