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Investimentos em sistema de aproveitamento do biogás permitem economia e agregação de valor

“O tempo do biogás chegou ao Brasil, ao Rio Grande do Sul.” A frase foi destacada pelo gerente da empresa alemã Ökobit, Christoph Spurk, no workshop sobre biogás realizado pela Cooperativa Languiru, Sistema Ocergs-Sescoop/RS e a empresa alemã fornecedora de tecnologia para unidades de biogás. O evento foi realizado no dia 11 de junho, na Associação dos Funcionários da Languiru e contou com a participação de mais de 80 pessoas e apresentou detalhes da parceria e do projeto piloto “Biogás produzido a partir de resíduos para o fortalecimento das cooperativas”.

O projeto de biogás é desenvolvido por meio de cooperação bilateral com a DGRV (Federação de cooperativas alemãs), o Sistema Ocergs-Sescoop/RS e a Cooperativa Languiru. Visa especialmente à identificação das tecnologias de biogás existentes na Alemanha e possibilidades de adaptá-las às condições da região Sul do Brasil, considerando o crescente aumento da demanda energética e a dificuldade para o seu suprimento, fazendo ser necessário o investimento em novas fontes energéticas alternativas para auxiliar no desenvolvimento sustentável.

 

O cooperativismo e a preocupação com o desenvolvimento sustentável

“O município de Teutônia é reconhecido pela força do cooperativismo como instrumento de desenvolvimento econômico e social de sua comunidade, aliando o trabalho de diferentes cooperativas também à sustentabilidade ambiental”, destacou o diretor geral da Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (ESCOOP), Derli Schmidt, que conduziu a programação do workshop.

Nas boas-vindas aos presentes, o presidente da Languiru, Dirceu Bayer, falou do orgulho da cooperativa em poder sediar o evento e ser referência com o projeto-piloto de biogás em sua Unidade Produtora de Leitões (UPL) Mundo Novo, em Bom Retiro do Sul. “Este é um evento que simboliza a preocupação com o Meio Ambiente, destacando a geração de energia limpa, um projeto de grande importância com expectativa de ser ampliado no futuro, envolvendo também nossas unidades industriais e oferecendo alternativas também às propriedades rurais dos nossos associados”, frisou.

O vice-presidente da Languiru, Renato Kreimeier, lembrou o início do projeto de biogás desenvolvido pela cooperativa. “Tudo iniciou com a preocupação da destinação correta dos dejetos e possibilidade de geração de energia com o aproveitamento deste subproduto da agricultura. Acima de tudo, é mais uma iniciativa da Languiru no que se refere aos cuidados com o Meio Ambiente. A semente foi lançada e a planta está crescendo bem, gerando belos frutos”, disse.

O Cônsul Geral da Alemanha, Stefan Traumann, reafirmou a importância do evento para a cooperação internacional Brasil-Alemanha. “Muito mais que parcerias políticas, este é um projeto concreto das cooperativas, que dão vida e produzem ações práticas entre os dois países. As dificuldades econômicas enfrentadas pelo Brasil, hoje, requerem grandes esforços para a retomada do crescimento, e a agricultura contribui com uma grande parcela nesse processo. Muitas parcerias ainda podem ser alinhavadas, e o projeto de biogás é um pequeno tijolo que está sendo colocado, fundamental para a preservação do Meio Ambiente”, enalteceu, elogiando o trabalho da Languiru.

O presidente do Sescoop/RS, Vergilio Perius, igualmente falou do trabalho da cooperativa teutoniense. “Estamos tratando de uma nova tecnologia na geração de energia limpa e aproveitamento de dejetos, e a Languiru mais uma vez está presente, aliás, como sempre está em momentos importantes como este. É um projeto de parceria entre o Rio Grande do Sul e a Alemanha que deve ter continuidade, as cooperativas gaúchas precisam avançar nesse sentido, criando uma ‘escola permanente de informação’. Isso é cooperativismo, unindo pessoas que fazem do capital humano a possibilidade de desenvolvimento da sociedade como um todo”, afirmou.

O presidente da Fecoagro/RS, Paulo Pires, também elogiou a Languiru, que considerou como “exemplo de sucesso e orgulho para o cooperativismo gaúcho”. Parabenizou ainda as entidades envolvidas com o projeto de biogás pela “visão estratégica de atividades conjuntas, num projeto moderno de preocupação ambiental e geração de energia”.

O prefeito de Bom Retiro do Sul, Pedro Aelton Wermann, falou do orgulho em contar com a Languiru no município, com o Supermercado, a UPL e os associados. “É uma cooperativa que serve de modelo de gestão, de competência, de solidez, de credibilidade e de seriedade”, disse, colocando a Municipalidade à disposição.

O vice-prefeito de Teutônia, Evandro Biondo, também se disse feliz com a parceria teutoniense com a Alemanha. “O dia de hoje marca uma nova etapa de trabalho para a preservação do Meio Ambiente, e a Languiru é precursora de uma série de ações nesse sentido.  O que estamos conhecendo neste evento é fruto da primeira semente lançada, com cada um fazendo a sua parte. Assim, podemos ver uma luz no fim do túnel para um planeta que passa por uma série crise ambiental. As pessoas com certeza se darão conta da importância desse projeto de biogás no futuro”, parabenizou.

 

Case da Languiru

Após os pronunciamentos das autoridades que compuseram a mesa principal, ocorreu a assinatura de um memorando de entendimento sobre a continuação da parceria do projeto de biogás, momento para o qual foram convidados o presidente da Languiru, Dirceu Bayer, e o gerente da empresa alemã Ökobit, Christoph Spurk.

Em seguida, Bayer apresentou o case da cooperativa, destacado essencialmente o programa de reestruturação iniciado em 2002. “O segredo do sucesso da Languiru está na agregação de valor à matéria-prima, na diversidade e eficiência produtiva, com um trabalho de gestão, comprometimento, competência e austeridade de todos os envolvidos.”

 

Projeto de cooperação

A apresentação do projeto de cooperação entre Alemanha e Brasil foi conduzida pelo diretor Arno Boerger, que classificou a iniciativa como um plano audacioso. “Temos muito a aprender juntos e a sociedade também deve ser conscientizada da sua importância nesse processo. A Languiru possui um pensamento moderno de usar os resíduos na geração de energia, e a capacitação de todos nesse processo é um tema futuro que deve ser contemplado”, disse.

Boerger citou programas de capacitação, desenvolvimento de recursos humanos e formação acadêmica, além de metas propostas para o projeto, com a concepção de um sistema de auditoria como ferramenta de gestão. “Entre essas ações, já em andamento, está a articulação comercial entre cooperativas agrícolas brasileiras e alemãs, com o projeto de bioenergia, e a análise e concepção de projeto cooperativo para a produção de sorvetes”, adiantou.

Como forma de continuidade, estão diálogos e a articulação entre cooperativas de diferentes nacionalidades para o desenvolvimento do setor. “É o caso da cooperação trilateral de cooperativas brasileiras, alemãs e argentinas. Outros países latino-americanos serão incluídos no diálogo até 2017”, disse.

Por fim, ele ainda trouxe detalhes da política de energias renováveis na Alemanha, com lei específica instituída ainda no ano 2000, e falou dos fatores que contribuem para o sucesso das cooperativas alemãs. “O cooperativismo alemão se desenvolveu quando se preocupou com qualificação. Exemplo disso são as cinco federações regionais de cooperativas, cada uma delas com pelo menos uma faculdade, totalizando nove instituições de ensino superior”, finalizou.

 

Potencialidades e desafios

Em seguida o professor do curso de Engenharia Ambiental da Univates, Dr. Odorico Konrad, coordenador do Laboratório de Biorreatores da universidade, palestrou sobre “Potencialidades e desafios da tecnologia de biogás no Rio Grande do Sul”. Para ele, a Alemanha está na vanguarda mundial do biogás. “Os alemães evoluíram muito nesta tecnologia nos últimos 20 anos, utilizando principalmente silagem de milho e hoje também aproveitando os dejetos animais. O Brasil também está nesse caminho, inicialmente com a cana-de-açúcar para o etanol e agora com o aproveitamento de dejetos”, explicou.

De maneira bastante dinâmica e descontraída, Konrad apresentou muitas fotografias de biodigestores geradores de energia, principalmente na Alemanha e na Suécia. “Há uma meta de desligamento das usinas atômicas, com mudança da matriz energética, com aproveitamento da energia solar, eólica, hídrica e do biogás. O Brasil deve aproveitar essas possibilidades de parceria internacional, adaptando a tecnologia às realidades locais”, sugeriu.

Para o professor, a utilização de biodigestores, especificamente com produção de biometano, também contribuem com projetos de mobilidade urbana. Ele citou o exemplo de veículos, entre eles os ônibus na Suécia. Quanto à realidade gaúcha, que utiliza essencialmente o modelo de biodigestor canadense, com balões para armazenamento do biogás, ainda há a necessidade de melhora nos reatores de energia. “Além disso, as membranas também apresentam problemas com a variação térmica nos períodos de frio e de calor. É uma maneira mais econômica no momento, que funciona, mas ainda podemos evoluir. A Languiru está dando o pontapé inicial e este evento é um marco na geração de energia alternativa”, disse.

Por fim, ainda apresentou detalhes de projeto desenvolvido em Montenegro, com utilização de biometano como combustível veicular. “O trabalho desenvolvido no Rio Grande do Sul é responsável por chancelar o novo combustível veicular no Brasil, cujo produto apresenta as mesmas características do GNV. Os sonhos estão se tornando realidade e avançando em diversas frentes. São os dejetos da produção primária utilizados pelo viés energético e preservando o Meio Ambiente”, concluiu Konrad.

 

Projeto de biogás da UPL Mundo Novo

Fechando a programação do evento, que ainda previa a visitação às instalações do projeto-piloto na UPL Mundo Novo, em Bom Retiro do Sul, mas que devido à chuva acabou adiada, ocorreu a apresentação dos estudos e resultados já obtidos no local.

Focando o potencial teórico para a tecnologia de biogás na Languiru, o gerente de projetos da AgroScience, Philipp Senner, agradeceu a receptividade da cooperativa. Ele apresentou detalhes da estrutura e as parcerias. “Em outras palavras, estamos possibilitando a agregação de valor aos dejetos suínos. Na unidade da Languiru, o potencial de geração de biogás é maior que a necessidade efetiva”, revelou. Para ele, quem investe hoje em biogás, economiza amanhã, e isso se aplica também às pequenas propriedades rurais. “A maioria dos componentes utilizados na UPL Mundo Novo estão disponíveis no Brasil. O biodigestor já existia, mas o biogás até então era queimado”, revelou.

Considerando diferentes cenários, Senner apresentou exemplo de utilização do biogás na Languiru, considerando biodigestores com a utilização de rejeito industrial e de material residual animal (dejetos bovinos). “O biogás produzido e armazenado pode gerar energia elétrica que atende a demanda total de eletricidade da Indústria de Laticínios por 24 horas. Esse biogás gerado é utilizado na produção de energia elétrica e calor”, exemplificou.

Os requisitos do sistema e solução técnica foram apresentados pelo engenheiro de projetos da Ökobit, Sven Jakob. Segundo dados do projeto, o biodigestor em Bom Retiro do Sul tem capacidade de produção de 140m³ de biogás, que equivalem a 70Kg de GLP, o gás de cozinha. “Atualmente, essa capacidade produtiva tem sido utilizada para o aquecimento da água dos chuveiros. Apenas 10% dessa produção de biogás é suficiente para atender a demanda de aquecimento dessa água. Isso representa uma economia mensal de R$ 650, antes gastos com GLP” explicou, considerando questões de biossegurança na unidade, que exige que qualquer pessoa que chegue à unidade tome banho e troque roupas e calçados.

A base do sistema de aquecimento da água é uma caldeira de água padrão (junquer), com adaptação de pressão e do fluxo de ar, ligado a um purificador de ar com carvão ativado para redução da presença do gás sulfídrico, que pode prejudicar o funcionamento do equipamento em função da corrosão. Outra dificuldade encontrada foi a expressiva presença de água no material, que pode ficar armazenada nas tubulações e interferir no seu funcionamento.

“Este é o primeiro passo para a introdução de tecnologia de biogás no Brasil, adaptada às condições locais, compacto, eficiente e sustentável, desenvolvido em conjunto e atendendo às necessidades da Languiru”, concluiu Jakob.

O engenheiro ambiental da cooperativa teutoniense, Tiago Feldkircher, apresentou fotos e vídeos com o sistema em funcionamento. “Desde 2009 a UPL contava com os biodigestores. Cada um deles tem capacidade de aproximadamente 1,5 mil metros cúbicos de volume para armazenagem, o que representa um alto valor energético de biogás. Trata-se de um projeto piloto que pode ser ampliado para outras unidades da Languiru, com a possibilidade de geração de energia térmica e elétrica, além de auxiliar para a destinação dos resíduos e agregação de valor aos dejetos”, explicou.

Nas análises do material produzido, o biogás apresentou cerca de 72% de metano. “Os estudos de opções de utilização estão focados na substituição ao gás de cozinha, geração de energia elétrica e aquecimento da água e dos leitões. Além disso, ainda temos o material orgânico final que pode ser utilizado como biofertilizante, nas formas sólida, líquida ou pastosa”, exemplificou Feldkircher. Entre outros números, ele apresentou comparativo de 1m³ de biogás, que equivale energeticamente a 1,5m³ de gás de cozinha, 0,6 litro de gasolina, 0,9 litro de álcool, 6,4 kWh de eletricidade e 2,7kg de lenha (madeira queimada).

Por fim, o gerente da Ökobit, Christoph Spurk, apresentou possibilidades de utilização de biogás para as cooperativas gaúchas. “Podemos ampliar a cadeia de agregação de valor com biogás. Nos últimos anos construímos 150 unidades de biogás na Europa, uma tecnologia fascinante que oferece diversas possibilidades”, frisou.

Conforme Spurk, os biodigestores funcionam de maneira simples, com ganho ambiental e financeiro. “No projeto de parceria com a Languiru, adaptamos a tecnologia das usinas europeias às características de substratos que encontramos na UPL. Assim, podemos construir uma unidade sustentável e desenvolver tecnologias viáveis. O projeto de uma usina de biogás é bastante extenso, pelo menos dois anos para seu desenvolvimento”, disse.

Para ele, a expansão do mercado de biogás brasileiro está prestes a começar. “Os produtos residuais oferecem mercado em potencial; o Brasil conta com altos padrões de tecnologia; a implementação de preços de aquisição é esperada num futuro não muito distante; e alguns projetos já são lucrativos, considerando as atuais tarifas de energia”, encerrou.

Texto: Leandro Augusto Hamester 

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