
O que Mondragon ensina sobre gestão que o varejo não mostra
- Artigo Inferior 2
Por Simone Zanatta, gerente de Comunicação e Marketing do Sistema Ocergs.
Entre os dias 12 e 16 de maio de 2025, participei da missão técnica internacional promovida pelo Sistema Ocergs ao País Basco, na Espanha. A visita reuniu dirigentes de 11 cooperativas gaúchas reconhecidas no Prêmio SomosCoop Excelência em Gestão 2024 RS e teve como foco a imersão na Corporação Mondragon, maior modelo cooperativista do mundo, estudado por instituições como Harvard e MIT.
Para quem, como eu, veio do varejo e carrega uma bagagem voltada para metas, performance e lucro, essa experiência foi uma virada de chave. Mondragon mostrou que eficiência e resultado também são centrais no cooperativismo, mas com uma abordagem que coloca as pessoas no centro e a comunidade como base estratégica.
Aqui compartilho cinco grandes lições de gestão cooperativista que Mondragon me ensinou e que podem transformar qualquer negócio, em qualquer setor:
1. Governança com foco nas pessoas e no território
Em Mondragon, a lógica do negócio é local e comunitária. Os recursos giram entre as próprias cooperativas, os trabalhadores e os projetos do território. Essa integração fortalece a economia regional e mostra que o sucesso coletivo é mais sustentável do que a competição individual. É gestão com propósito e com estratégia.
2. Inovação tecnológica como ferramenta de autonomia
O investimento em tecnologia é pesado e estratégico. Inteligência artificial, mobilidade elétrica, energia solar e startups são desenvolvidas dentro das cooperativas ou em centros de pesquisa como o Ikerlan. Mondragon não consome inovação: ela cria. E o melhor, os lucros desse desenvolvimento retornam para o sistema cooperativista.
3. Crescimento controlado e sustentável
Para fazer parte do grupo Mondragon, uma cooperativa precisa comprovar cinco anos de resultados positivos. Nada de expansão apressada. Quando uma cooperativa enfrenta dificuldades, as demais oferecem suporte. O modelo é baseado em confiança, reservas técnicas e cooperação.
4. Educação empreendedora como pilar da cultura cooperativista
A educação em Mondragon é estratégia também. Já no primeiro semestre da universidade, os estudantes criam cooperativas, apresentam pitchs e passam por mentorias. Tudo isso aliado à formação ética e comunitária. É inovação com raiz e formação voltada ao futuro do trabalho.
5. Modelo de gestão com participação real e responsabilidade coletiva
Em Mondragon, todos são sócios e trabalhadores. Conselhos e presidência têm mandatos definidos. As decisões são coletivas, os lucros são repartidos e a transparência na gestão é regra. A governança é técnica, eficiente e humana. É gestão com alma e método.
Um modelo cooperativista global com lições aplicáveis ao Brasil
A visita a Mondragon mostrou que o modelo mais inovador de negócio do mundo talvez não esteja no Vale do Silício, mas no País Basco, onde inclusão, estratégia, educação e tecnologia são os pilares da gestão.
Para quem está inserido no cooperativismo brasileiro, conhecer essa referência global é essencial para inspirar novas práticas e reafirmar que é possível crescer com responsabilidade, foco no coletivo e resultados consistentes.
Leia também:
O que inscrever no Prêmio SomosCoop Melhores do Ano RS? Live responde essa e outras dúvidas
Notícias